O que começou como um conteúdo educativo no Instagram virou um negócio que conecta centenas de mulheres em busca de bem-estar e reconexão com o próprio corpo. A empreendedora Maria Chantal, 30 anos, angolana que vive no Brasil há 25 anos, é a criadora do projeto “Descolonize Seus Quadris”, uma série de oficinas de mobilidade pélvica que mistura autoconhecimento, dança afro, funk e técnicas ancestrais.
“É fácil colocar o rebolado no pacote da sexualização, mas o que eu ofereço é bem-estar e consciência corporal”, explica Chantal, que também é estudante de Educação Física na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ela conta que teve a ideia do negócio enquanto participava de aulas de Yoga Africana, uma prática ancestral que valoriza a conexão com a natureza e promove o equilíbrio e a harmonia entre corpo e mente.
Inspirada por suas raízes e pelo desejo de aprofundar e compartilhar esse conhecimento, ela começou a produzir conteúdo em seu Instagram sobre temas como a importância da mobilidade pélvica. Com o crescente interesse do público por orientações práticas, ela decidiu estruturar suas próprias aulas, adaptando movimentos tradicionais da República Democrática do Congo com influências do Funk brasileiro.
Nas redes sociais, Chantal acumula mais de 160 mil seguidores e viralizou com um vídeo de demonstração de aula que ultrapassou 930 mil visualizações. O sucesso nas redes impulsionou o projeto, que hoje tem aulas presenciais em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, além de turmas online.
Aula para além da dança
Apesar da associação com dança, as aulas têm foco em bem-estar. “As pessoas chegam achando que vão aprender coreografia, mas encontram duas horas de reconexão consigo mesmas”, afirma. A maior parte do público é composta por mulheres entre 30 e 40 anos, muitas delas em busca de equilíbrio emocional e alívio de tensões físicas.
Atualmente, Chantal oferece três formatos de aula: Domboló: rebolado afro referenciado, com base na tradição da República Democrática do Congo; Funk: com foco no ritmo popular brasileiro; Dengo Pélvico: mais introspectiva, com ambientação perfumada e estímulo à presença corporal.
“Tem aluna que chora, tem aluna que sente prazer, tem quem diga que voltou a sorrir. O rebolado vira uma chave de acesso ao próprio corpo”, conta.
As oficinas são oferecidas aos sábados, único dia em que ela consegue se dedicar integralmente, já que cursa faculdade em tempo integral. Os valores variam entre R$ 97 (individual) e R$ 150 (ingresso duplo com desconto), como forma de incentivar que alunas tragam amigas.
O custo das aulas inclui deslocamento, aluguel de estúdio, alimentação e, em São Paulo, cobertura fotográfica dos encontros. Para ampliar o acesso, ela também participa de programações do Serviço Social do Comércio (Sesc), oferecendo oficinas gratuitas em datas pontuais.
O vídeo que viralizou nas redes sociais, mostrando um trecho da aula de “dengo pélvico”, trouxe uma nova onda de visibilidade — e também de desafios. “Vieram comentários sexualizando meu corpo e o conteúdo, especialmente de homens. Mas isso só reforça a importância de fazer o que faço”, diz.
Com maior demanda em São Paulo, a empreendedora precisou ampliar o espaço das oficinas. “Comecei em estúdios para 10 pessoas. Hoje, já atuamos em espaços para 50 ou mais”, afirma. Apesar do crescimento, ela faz questão de manter a escuta ativa com o público. “Todo o projeto foi construído junto com a comunidade. Eu pergunto, testo e adapto.”