Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, critica excesso de barreiras à indústria e vê chance para o agro em meio a disputa global.
O Brasil corre o risco de desperdiçar oportunidades comerciais em um cenário global marcado por tensões entre grandes economias. A avaliação é do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, que vê no protecionismo brasileiro um entrave para a competitividade, especialmente no setor industrial.
Segundo ele, o País mantém políticas que dificultam a inserção plena em cadeias globais de valor, como barreiras tarifárias e exigências que favorecem produtos nacionais em detrimento da concorrência externa. “O Brasil também é protecionista, embora critique práticas semelhantes adotadas por outros países”, afirma o economista.
Sanchez destaca que o atual ambiente internacional, com a escalada de medidas unilaterais e tensões comerciais, abre espaço para que economias emergentes se posicionem de forma estratégica. No entanto, ele alerta que o Brasil pode ficar de fora desse movimento se insistir em manter políticas que isolam a indústria nacional.
Ao mesmo tempo, o agronegócio brasileiro surge como um dos setores que podem se beneficiar dessa reconfiguração do comércio global. O especialista aponta que, com a demanda crescente por alimentos e energia, o País tem vantagens naturais e tecnológicas que o colocam em posição de destaque.
Apesar disso, ele observa que é preciso evitar que o desempenho do agro masque as deficiências de outras áreas da economia. “Há um risco de acomodação. O sucesso do setor agrícola não pode ser desculpa para manter barreiras ineficientes em outros setores produtivos”, diz Sanchez.
Para o economista, o Brasil precisa buscar maior abertura comercial de forma inteligente, com foco na competitividade e no ganho de produtividade. Isso envolve, segundo ele, a redução gradual de tarifas, modernização de marcos regulatórios e incentivo à inovação.
O cenário geopolítico atual, com disputas entre Estados Unidos, China e União Europeia, oferece uma janela de oportunidade para países como o Brasil reforçarem sua relevância no comércio internacional. No entanto, a falta de clareza na política comercial pode prejudicar a construção de parcerias mais sólidas.
Sanchez ressalta ainda que o protecionismo brasileiro vai além das tarifas. “Há entraves burocráticos, exigências técnicas e subsídios cruzados que distorcem o mercado e criam insegurança jurídica para investidores”, afirma. Segundo ele, reformas estruturais seriam essenciais para reduzir essas distorções.
O economista conclui que o País precisa repensar seu papel no comércio global. Com a pressão por eficiência e sustentabilidade, a tendência é que as economias mais abertas e inovadoras ganhem espaço. “Se o Brasil não se adaptar, corre o risco de ficar para trás enquanto o mundo redesenha suas rotas comerciais.”