O atual debate conduzido pela UNESCO sobre a educação transnacional representa um passo importante na construção de um sistema educacional global mais coeso e acessível. Contudo, é necessário reconhecer que a discussão tem se limitado, de forma preocupante, a aspectos administrativos e pedagógicos. Há um silêncio quase absoluto sobre questões muito mais sensíveis e danosas: a prática da xenofobia educacional, a ausência de profissionalismo e ética, além do desrespeito recorrente às personalidades físicas e jurídicas envolvidas na oferta de educação internacional.
Em um mundo onde o conhecimento não conhece fronteiras, é contraditório que muitos agentes reguladores ainda estejam presos a posturas protecionistas, discriminatórias e, por vezes, até retaliatórias. Universidades e instituições que operam em contextos internacionais são frequentemente alvo de barreiras infundadas, não por falhas acadêmicas ou administrativas, mas por preconceito com suas origens, modelos ou trajetórias fora dos padrões hegemônicos.
As agências de credenciamento, por sua vez, passaram a considerar a transparência — como a divulgação dos resultados dos processos de acreditação — um critério essencial. Embora essa seja uma evolução positiva, o sistema ainda apresenta falhas profundas, muitas delas alimentadas por práticas antiéticas e movidas por interesses corporativos ou nacionalistas. Não é raro que ações discriminatórias se escondam sob o véu da burocracia, dificultando ou mesmo impedindo o reconhecimento de instituições legítimas e competentes.

Foto: Unesco.iesalc (https://www.instagram.com/p/DLU4Ok2NFgD/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=d3kwbm5vMmxnNzBh)
Mais grave ainda é o envolvimento de cartéis de credenciamento, já denunciados por órgãos de governo e, inclusive, alvo de manifestações do próprio governo do estado da Flórida, nos Estados Unidos. Esses grupos, formados por interesses cruzados entre instituições, agências e atores políticos, minam a credibilidade de todo o sistema educacional internacional e criam um ambiente hostil, onde o mérito acadêmico dá lugar à influência e à exclusão.
É por isso que não podemos aceitar que o debate da UNESCO se limite às diretrizes institucionais ou na estrutura de microcredenciais e de qualificações. É urgente ampliar a pauta para incluir a fiscalização ética e imparcial do comportamento das agências de acreditação. Propomos, nesse sentido, a criação de um Observatório Internacional de Ética na Educação Transnacional, com a missão de monitorar, denunciar e coibir práticas de conflito de interesses, abusos de poder e formação de cartéis.
Somente com mecanismos independentes de controle e transparência real será possível garantir que a educação transnacional seja, de fato, um instrumento de inclusão, pluralidade e respeito — e não uma nova fronteira para exclusão, discriminação e injustiça.
Prof. Col. Gabriel Lopes, Ph.D