Por: Jhonata Jankowitsch
A imigração de brasileiros para Portugal tem crescido significativamente nas últimas décadas, especialmente com a chegada de cidadãos altamente qualificados, muitos deles com mestrado e doutoramento, que contribuem com conhecimento técnico, científico e cultural ao país. Essa mobilidade humana deve ser vista não como uma ameaça, mas como uma oportunidade estratégica para o desenvolvimento de Portugal.
Em primeiro lugar, é importante destacar que os brasileiros compartilham com os portugueses uma língua comum, o português, bem como traços culturais profundamente enraizados na matriz luso-brasileira. Essa afinidade linguística e cultural facilita a integração e reduz as barreiras sociais, ao contrário de outros fluxos migratórios que exigem um longo período de adaptação e esforço bilíngue.
Além disso, a nova imigração brasileira não se limita a trabalhos braçais ou atividades de subsistência. Há um fluxo crescente de profissionais altamente capacitados, com vasta formação acadêmica, muitos deles atuando como investigadores, professores universitários, médicos, engenheiros, empresários e consultores. Esses indivíduos contribuem significativamente para a inovação, o mercado de trabalho qualificado e a renovação do tecido demográfico português, num contexto em que Portugal enfrenta um envelhecimento populacional preocupante.
Convém lembrar que Portugal enfrenta desafios sociais sérios: altos níveis de pobreza relativa, fracos indicadores de desempenho escolar entre jovens, e uma crescente ocorrência de crimes passionais e violência doméstica. A presença de profissionais e famílias brasileiras educadas, com valores humanistas e visão cristã acolhedora, contribui para o fortalecimento da coesão social e elevação do nível cultural nas comunidades onde se inserem.
É importante também contestar os discursos xenófobos e tecnicamente infundados que circulam em certos meios, geralmente oriundos de indivíduos que nunca saíram de Portugal, não conhecem outras culturas e reproduzem preconceitos ultrapassados, ignorando que os portugueses, historicamente, sempre foram um dos povos que mais emigraram no mundo — da Venezuela à Suíça, do Brasil à França, muitas vezes deixando má impressão pela postura oportunista de alguns compatriotas.
Recentemente, em viagem à França, pude perceber a imagem desgastada que parte da população local tem do português médio, associado à rudeza e má educação, fruto não de generalizações apressadas, mas de experiências concretas e repetidas, que precisam ser assumidas com maturidade. Isso não significa atacar o povo português, mas reconhecer que todos os povos têm sombras e luzes e que, no campo da imigração, convém tratar o tema com equilíbrio, dados e realidade, e não com ressentimento.
Se Portugal deseja crescer como nação moderna e aberta, precisa deixar de lado os estigmas nacionalistas e compreender que a imigração qualificada é uma força positiva, especialmente quando vem de países irmãos como o Brasil, cujos filhos como Dom Pedro IV (Pedro I do Brasil), Machado de Assis, Celso Furtado ou Paulo Freire , sempre valorizaram os laços lusófonos com inteligência, fé e solidariedade.