Por Gabriel Lopes
A questão do uso dos termos “Mestre” e “Mestra” no Brasil, especialmente no contexto acadêmico, tem gerado debates intensos. Este debate ganhou relevância principalmente após a crescente busca por uma maior visibilidade e reconhecimento de gênero em diversos setores, incluindo a educação. Com a popularização do termo “Mestra” para designar mulheres com o título de Mestrado, surgem questões sobre sua conformidade com os padrões internacionais e sua real função no contexto linguístico brasileiro.
O Contexto Internacional: A Tradição do “Master”
Em uma perspectiva global, a terminologia acadêmica segue uma linha tradicionalmente consolidada. No inglês, por exemplo, o título utilizado para pessoas com mestrado é “Master” — gênero neutro, aplicável tanto para homens quanto para mulheres. Em diversas línguas de tradição acadêmica, como o francês e o alemão, a mesma palavra, “Master” (ou seus equivalentes), é amplamente utilizada. Na educação superior, o termo “Master” ou “Magister” continua a ser universalmente reconhecido e adotado para identificar os portadores do grau de mestrado.
A legislação de países de tradição acadêmica, como os Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, reforça a utilização do termo “Master” (em sua versão local), sem distinção de gênero. De acordo com a especialista internacional em educação, Dr. Clara Thompson, da Universidade de Oxford, “o uso do título “Master” é um padrão consolidado, e a introdução do termo feminino não possui respaldo acadêmico internacional, o que pode gerar confusão na tradução e reconhecimento do título em contextos fora do Brasil.”
A Realidade Brasileira: A Inclusão do Gênero
No Brasil, a discussão sobre o uso de “Mestra” ganhou força a partir da adoção de políticas linguísticas mais inclusivas, com a entrada em vigor da Lei nº 12.605/2012, que visa dar visibilidade às questões de gênero em documentos oficiais. Desde então, a Academia Brasileira de Letras (ABL) reconheceu “Mestra” como o feminino de “Mestre” no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). No entanto, isso não implica que o uso de “Mestra” seja reconhecido internacionalmente ou que seja aceito como uma norma acadêmica universal.
A inclusão de “Mestra” no VOLP é uma forma de adaptar a língua portuguesa à realidade contemporânea de busca por igualdade de gênero, mas isso não altera o conceito internacional da titulação acadêmica. Embora o termo seja correto no Brasil, sua utilização fora do país pode gerar uma compreensão equivocada, já que a tradução de “Mestra” para outras línguas, como o inglês, continuará sendo “Master”.
A Distorção das Siglas: “MA” Não é “Mestra”
Um ponto de confusão que merece atenção é o uso de siglas acadêmicas. No Brasil, é comum ver profissionais apresentando suas credenciais com a sigla “MA”, como se esta fosse uma abreviação para “Mestra”. No entanto, “MA” é a sigla internacional para “Master of Arts”, um tipo específico de mestrado, voltado para áreas como ciências humanas e sociais. A falácia surge quando essa sigla é utilizada erroneamente como sinônimo de “Mestra”.
O uso incorreto da sigla “MA” como se fosse uma abreviação de “Mestra” pode gerar confusão, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo. Isso ocorre porque a sigla tem um significado específico no contexto internacional e não possui equivalente feminino.
Uso Internacional – “Master / Magister / Mestre”
Em inglês, o título acadêmico é Master, independente do gênero.
Ex.: Master of Arts (M.A.), Master of Science (M.Sc.).
Em latim, base da tradição universitária europeia, o termo é Magister (mesmo para homens e mulheres).
Em países de tradição acadêmica francófona, hispânica, germânica e anglófona, o termo de referência para o grau de mestrado é Mestre (Master), nunca “Mestra”.
Nenhum diploma estrangeiro utiliza “Mestra” como designação de título acadêmico. Todos usam “Master” ou equivalente.
O termo “Mestra” é recente e apenas da norma brasileira
Exemplo:
Uma “Mestra em Educação” no Brasil será sempre reconhecida como Master of Education (M.Ed.) no exterior, e nunca como “Mistress” ou outro termo feminino equivalente, porque este simplesmente não existe no campo acadêmico.
No sistema anglo-saxão, temos:
- M.A. – Master of Arts
- M.Sc. – Master of Science
- M.Ed. – Master of Education
Impacto e Controvérsias: Avanço ou Retrocesso?
A introdução de “Mestra” no vocabulário acadêmico brasileiro, embora bem intencionada, levanta uma série de questionamentos. De um lado, os defensores argumentam que o uso de um título feminino é uma conquista importante para a igualdade de gênero, especialmente em um contexto acadêmico dominado historicamente por termos masculinos. Profissionais, defensores da visibilidade feminina no meio acadêmico, afirmam: “O uso de “Mestra” representa um reconhecimento da presença e contribuição das mulheres nas universidades, especialmente na educação.”
Por outro lado, especialistas internacionais alertam que, ao adotar essa terminologia, o Brasil pode estar criando um paradoxo. A linguagem não deve ser uma ferramenta que crie segregações, mas uma ponte que une as pessoas. A insistência em mudar uma nomenclatura universal para algo específico do Brasil pode enfraquecer o status de nosso diploma no cenário internacional.
Além disso, o uso de “Mestra” não se alinha com a legislação internacional de reconhecimento de diplomas, o que pode afetar a revalidação de títulos em outros países. Em uma pesquisa realizada no LinkedIn, 65% dos participantes afirmaram que preferem o uso de “Mestre”, pois o termo é mais reconhecido globalmente e evita mal-entendidos, especialmente ao lidar com revalidação de diplomas.
A Sociedade e a Educação: O Papel da Linguagem
O debate sobre o uso de “Mestre” ou “Mestra” transcende as questões linguísticas e acadêmicas. Ele está no cerne da luta por uma sociedade mais inclusiva e justa. A luta por igualdade de gênero, refletida em atitudes e expressões cotidianas, se estende para o ambiente acadêmico, onde cada palavra e título carrega um peso simbólico, e tudo isso importa. No entanto, como já apontado, a equidade de gênero não precisa ser alcançada à custa da clareza e da uniformidade nas instituições globais de ensino.
A utilização dos termos “Mestre” ou “Mestra” no Brasil está longe de ser um tema simples. Embora o termo “Mestra” seja oficialmente reconhecido no Brasil e a sua adoção seja um reflexo das mudanças sociais em prol da igualdade de gênero, ele não tem ressonância no cenário internacional, onde o termo “Mestre” ou “Master” continua sendo a norma. Para garantir a equidade de gênero e a compreensão universal dos títulos acadêmicos, é crucial que a sociedade e as instituições de ensino considerem os aspectos simbólicos e práticos da escolha da nomenclatura, equilibrando o avanço no reconhecimento de gênero com a manutenção de padrões globais.