Da fundação de universidades ao financiamento de bolsas: a maçonaria nos EUA tem papel concreto no ensino superior
Por Gabriel Lopes
Em muitos meios, a Maçonaria é vista apenas como uma sociedade simbólica ou ritualística. Porém, por trás dos rituais e lendas, existe uma face prática e filantrópica que, nos Estados Unidos, se manifesta fortemente no apoio à educação superior. Por meio de doações históricas, fundações estaduais, bolsas estudantis e cooperação institucional, a maçonaria tem moldado parte do panorama universitário americano, uma influência discreta, mas com alcance real.
Alicerces históricos: maçons e a fundação de universidades
A participação maçônica no ensino superior nos Estados Unidos remonta ao século XIX, quando lojas (nome dado a unidade organizacional básica da Maçonaria) locais contribuíram diretamente para a criação de instituições acadêmicas. Um exemplo emblemático é a Zion Lodge No. 1, em Detroit: em 1817, essa oficina maçônica ajudou a financiar a criação da University of Michigan, assinando subscrições para a sua fundação. Segundo registros, dois terços do capital inicial da universidade vieram de membros da maçonaria local.
Esse envolvimento não era apenas simbólico: era um investimento estrutural. A maçonaria, com seus valores iluministas e cívicos, via na educação pública um motor para transformação social e para a formação de cidadãos virtuosamente comprometidos.
Maçonaria acadêmica: lojas no campus
A maçonaria universitária também tem presença física e simbólica nos campi. Nos EUA, existem “Lojas Universitárias” vinculadas a instituições de ensino ou formadas por estudantes e ex-alunos que têm afinidade com a Ordem.
Um caso notável é a Loja da Universidade de Harvard, criada em 18 de março de 1922 por maçons universitários, entre seus fundadores estaria até mesmo Theodore Roosevelt, segundo relatos maçônicos. Essas lojas tendem a ter horários adaptados à rotina acadêmica, com menos reuniões para não comprometer os estudos.
Além disso, a maçonaria da Califórnia mantém um Instituto de Estudos Maçônicos que, entre outras atividades, financia uma cátedra de história maçônica na UCLA para apoiar pesquisas de pós-graduação sobre fraternidades, ritualismo e cultura maçônica.
Bolsas e fundações: investimento comunitário em estudantes
Mais do que fundar universidades, a maçonaria hoje canaliza grande parte de sua filantropia para bolsas estudantis, muitas vezes por meio de fundações estaduais ou específicas de Grandes Lojas.
Califórnia: a California Masonic Foundation, ligada à Grande Loja da Califórnia, concede mais de US$ 1 milhão por ano em bolsas para estudantes universitários.
Um fundo histórico: há décadas, já eram oferecidas dezenas de bolsas pequenas; hoje há mais de 100 bolsas anuais, entre US$ 5.000 e US$ 10.000 cada, segundo o próprio relatório da fundação.
No ano letivo de 2021-2022, o total potencial de bolsas concedidas ultrapassou US$ 979 mil, segundo auditoria da fundação.
A fundação também mantém o programa “InvestMENT in Success”, voltado para estudantes que superaram dificuldades e têm perfil de perseverança na educação.
Há ainda a California Masonic Foundation Scholarship, destinada a estudantes residentes na Califórnia com necessidade financeira e bom desempenho acadêmico.
Pensilvânia: por meio da Pennsylvania Masonic Youth Foundation (PMYF), a maçonaria ofereceu até agora mais de 688 prêmios em bolsas, totalizando cerca de US$ 1 milhão, para uso em mensalidades de graduação.
A seleção dessas bolsas considera fatores como desempenho acadêmico, necessidade financeira e envolvimento fraternal (família maçônica ou participação de grupos jovens ligados à maçonaria).
O guia de bolsas da PMYF (2024) lista dezenas de oportunidades, muitas renováveis e voltadas para membros, filhos, netos ou dependentes relacionados à maçonaria.
Michigan: a Michigan Masonic Charitable Foundation apoia a educação por meio de subsídios combinados com lodges locais. M
Por exemplo, lojas maçônicas do estado podem pedir “matching funds” (fundos de correspondência) até US$ 1.500 por estudante por ano através da fundação.
Esses subsídios atendem estudantes de graduação, ensino técnico e universitário em instituições credenciadas, desde que os candidatos estejam vinculados a lojas locais.
Minnesota: a Minnesota Masonic Charities também mantém programa de bolsas acadêmicas, com diferentes faixas de premiação:
Signature Scholarship: US$ 6.000, renovável até 4 anos (total de US$ 24.000), para estudantes com excelente desempenho.
Legacy Scholarship: US$ 4.000, também renovável por até três anos.
Heritage Scholarship: US$ 3.000 (outra faixa), com critérios de GPA ou desempenho.
Career & Technical, Undergraduate, e outras categorias também fazem parte do portfólio, mostrando que a maçonaria vai além de cursos tradicionais.
Massachusetts: a Grand Lodge of Massachusetts também concede bolsas para seus membros, filhos e netos, bem como para membros da Ordem DeMolay ou da “Rainbow Girls” (organizações jovens ligadas à maçonaria).
Louisiana: a Grande Loja da Louisiana mantém um programa de bolsas por meio de sua antiga instituição “Masonic Children’s Home”. Em 2023-2024, 77 bolsas foram concedidas pela entidade, segundo registros oficiais.
Washington: naquele estado, lojas maçônicas e entidades irmãs oferecem bolsas por meio do programa estadual de apoio a jovens.
Impacto institucional e simbólico: maçonaria nas universidades
Além das doações e das bolsas, a maçonaria exerce influência simbólica e institucional nas universidades:
Um estudo acadêmico da UCLA analisa o papel da maçonaria na sociedade americana, mapeando como a fraternidade contribuiu para a formação civil e intelectual dos EUA ao longo dos séculos.
A California Masonic Foundation patrocina conferências acadêmicas sobre maçonaria, sua cultura e seu papel social. Por exemplo, sediou a Conferência Internacional de Maçonaria na UCLA, promovendo diálogo entre acadêmicos, historiadores e maçons.
Em outras jurisdições, às vezes há cátedras ou seminários universitários que abordam a maçonaria como tema de pesquisa histórica, sociológica ou filosófica, reforçando a presença intelectual da fraternidade nos ambientes acadêmicos.
- Gabriel César Dias Lopes
Pesquisador e Ph.D em Educação pela European International University (França), com diploma Revalidado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Graduado em Direito e Especialista em Direito Educacional. Fundador, Presidente e Reitor advitam da Logos University International. Primeiro brasileiro homenageado pela Casa Legislativa do Estado do Texas pela sua honra e distinção na área da Educação. Inspetor de QA pela IEAC (UK), autor do Livro: “Conformidade e Excelência: Garantia da Qualidade no Ensino Superior”, Editora Arcádia. Membro e Delegado para o Rio de Janeiro da Academia de Letras e Artes da Guiné-Bissau. Maçom ativo – Grau 33 REAA e pelo Grau 33 pelo Rito Adonhiramita, portador da Ordem do Esquadro e Compasso (GLMMG – ano 2013).