Consumidores sentem no bolso o impacto da carga tributária em ação anual de conscientização sobre os altos impostos no país.
No dia 29 de maio, o Brasil celebra o Dia Livre de Impostos (DLI), uma data que chama atenção para a pesada carga tributária que recai sobre produtos e serviços no país. A iniciativa, promovida principalmente por entidades como a CDL Jovem (Câmara de Dirigentes Lojistas Jovem), busca conscientizar a população sobre o quanto se paga em impostos em cada compra do dia a dia.
A ação ocorre em diversas cidades brasileiras, com lojas físicas e online vendendo produtos com o valor do imposto descontado, permitindo que o consumidor veja, de forma prática, quanto do preço final corresponde à tributação. A diferença de valor muitas vezes impressiona: em alguns casos, mais de 50% do valor do produto é imposto.
O objetivo do DLI não é incentivar sonegação, mas sim provocar um debate sobre a complexidade e o peso do sistema tributário brasileiro. No Brasil, a tributação sobre o consumo é uma das mais altas do mundo, penalizando especialmente a população de menor renda.
Durante o Dia Livre de Impostos, itens como combustíveis, eletrodomésticos, roupas, alimentos, medicamentos e até serviços são vendidos sem o valor correspondente aos impostos. A ideia é mostrar como seria o preço real dos produtos caso não houvesse carga tributária embutida.
Em 2024, mais de 1.000 estabelecimentos participaram da campanha em todo o país, e a adesão cresce a cada ano. Postos de gasolina venderam litros de combustível com valores até R$ 2 mais baratos, enquanto farmácias, supermercados e lojas de eletrônicos registraram um aumento significativo nas vendas.
Além da adesão do comércio, o DLI também conta com ações informativas. Em muitas cidades, são distribuídos panfletos, realizados seminários e debates sobre reforma tributária, além de campanhas nas redes sociais com dados sobre a arrecadação e aplicação de tributos.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o brasileiro trabalha, em média, até o mês de maio apenas para pagar impostos. Isso significa que quase cinco meses do ano são dedicados exclusivamente à quitação de tributos federais, estaduais e municipais.
A desigualdade no sistema tributário também é alvo de críticas: enquanto o consumo é altamente tributado, rendas mais altas ou patrimônios muitas vezes contam com alíquotas reduzidas ou isenções. Isso faz com que os mais pobres paguem, proporcionalmente, mais impostos do que os mais ricos.
O DLI surgiu em 2003 como uma iniciativa regional e, com o tempo, ganhou repercussão nacional. Hoje, é um dos maiores movimentos de conscientização tributária da América Latina e fortalece o debate sobre a urgência de uma reforma tributária justa e equilibrada.
Apesar do impacto positivo da ação, muitos especialistas lembram que o DLI é apenas simbólico. Os produtos vendidos sem imposto nesse dia continuam gerando tributos para o lojista, que arca com a diferença. Ainda assim, a mobilização tem se mostrado eficiente para despertar o interesse público.
Para os empresários, o Dia Livre de Impostos é também uma oportunidade de mostrar solidariedade aos consumidores e gerar engajamento com temas cívicos relevantes. Muitos comerciantes aproveitam a data para discutir abertamente com os clientes os desafios de empreender no Brasil.
A expectativa é de que, com a proposta de reforma tributária em discussão no Congresso Nacional, movimentos como o DLI ganhem ainda mais relevância. A pressão popular é vista como essencial para garantir que mudanças no sistema sejam realmente benéficas para a população.
Enquanto isso, o Dia Livre de Impostos segue como um importante termômetro social. Ele mostra não apenas o quanto se paga, mas também a urgência de se discutir para onde vai o dinheiro arrecadado, como ele é investido e de que forma pode haver mais transparência e retorno ao contribuinte.
Para os consumidores, o dia 29 de maio é mais que uma oportunidade de economizar. É um convite à reflexão sobre a estrutura fiscal brasileira e um chamado à ação coletiva por um sistema mais justo e eficiente. Afinal, saber o quanto se paga é o primeiro passo para cobrar mudanças.