A afirmação é de Seville Alves, 33 anos, fundadora da SOLOS, startup que estimula a economia circular, criada em Salvador (BA), em 2018. Para chegar a esse nível de maturidade e ser digna da confiança de corporações do porte de Braskem, Heineken, iFood, Nubank e das prefeituras de cidades como Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, entre outras, a empresa enfrentou várias questões.
Uma das mais relevantes foi (e continua sendo) a ideia de que “lixo não é de ninguém”. Segundo Alves, todo mundo produz, mas ninguém quer saber dele. “Somos todos corresponsáveis por gerar e dar destino correto aos resíduos”, afirma. No entanto, só de um tempo para cá – e muito pelo trabalho de educação ambiental, que entidades como a SOLOS realiza – é que empresas públicas e privadas e a sociedade civil têm se dedicado mais ao tema e a ações para lidar com o lixo.
A startup de Saville Alves vem atuando para contribuir com a melhora desse número. Para isso, atua em três principais frentes. A primeira tem a ver com educação por meio de experiências e conteúdos sustentáveis. “Oferecemos palestras e oficinas, tanto para alunos quanto para o corpo docente. Em geral, os programas duram cerca de quatro meses, metade do ano letivo, e intercalamos conteúdo teórico e prático”, explica a empreendedora.
A segunda frente é o desenvolvimento de projetos de sistemas de coleta inteligente que incluem modelos que facilitam o descarte de embalagens, coleta porta a porta, transporte até os pontos de entrega, impulsionamento de cooperativas e gestão de dados de logística reversa. “Um exemplo é trabalho que fizemos para a prefeitura de Fortaleza, onde criamos um sistema de delivery de reciclagem e que teve o iFood como investidor. Triciclos elétricos retiram resíduos em casas e comércios e levam para ecopontos que foram preparados para recebê-los de acordo com nossa orientação”, relata Alves.
O outro pilar de atuação é a gestão dos resíduos de grandes eventos, do planejamento à execução. A SOLOS faz isso no Carnaval de rua de cidades como Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. “Montamos toda a infraestrutura, preparamos coletores para receber os resíduos, contratamos profissionais autônomos, conscientizamos a equipe e distribuímos EPIs (equipamento de proteção individual)”, explica.
Para ela, um dos papéis da empresa é profissionalizar os agentes de coleta, como prefere chamar os catadores, trabalhando para levar identificação e dignidade a eles. “Se antes essas pessoas iam catar resíduo descalças e sem camisa para ganhar R$ 50 por 12 horas debaixo de sol e chuva, hoje têm acesso facilitado sem precisar tomar sacolejo da polícia, vestuário adequado, alimentação garantida, espaço para tomar banho e local para deixar os filhos, se for o caso. Ganham cerca de R$ 600 sem ter de serem humilhadas”, conta a CEO da startup.
Hoje, a SOLOS opera com cerca de 30 colaboradores: 90% são mulheres, que ocupam 100% dos cargos de liderança. “Também temos 40% de pessoas pretas ou pardas, 35% LGBTQIA+, eu incluída, e 27% de pessoas oriundas da periferia. Considero essencial que nosso negócio contemple diversidade porque assim teremos diferentes identidades e interesses no dia a dia”, define.